Nosso Alvoreser



Por Marcos Cesário



Carinha, estou me distribuindo, pouco a pouco, em cada camada desta brisa matinal. Sentado, preguiçosamente, numa cadeira muito bem instalada na varanda de tua nostálgica casa, que me parece ter sido não construída, mas plantada nesta bela fazenda, como uma flor regada e amada no canteiro da tua vida, onde, pacientemente, adubas teu cemitério de mudas, podando, cuidadosamente, as promessas devastadas.

Há pouco, nesta mesma varanda, estávamos eu e você, Alvinho do Riacho, conversando, rindo e brigando - o que não é nenhuma novidade - discordando e apreciando os efeitos sonoros e contraditórios das letras desenhadas em nossas saltitantes palavras.

Já compartilhamos a brisa da praia de Amaralina, na margem da caatinga, a 376 km do mar. Sentados no banco - sempre o mesmo - daquela pequena praça provinciana, levados pelas correntes soltas dos ventos, no tempo ameninado das  nossas sensações.
                                                                                                                                                                 
Álvaro Perez, escrevo deitado na relva do teu riso, saboreando o ritmo de cada descompasso de tuas irônicas saudades e francas confissões: "ando falando com meu pai morto. Lhe pedi perdão". Permaneço calado e é dentro de teu íntimo silêncio que te digo: Biro, nascemos pela contramão.

Irmão, às vezes não sei fingir. Ajuda-me a tingir. Empresta-me tuas infantis e desmemoriadas cores. E reacenda comigo as matizes das cinzas mal escondidas no cinza, na ponta, na arejada sombra do teu brincante, e nosso, hidrocor.